A Potrich Arquitetura descobriu que segundo nos conta o padre Serafim Leite em seu estudo sobre a Companhia de Jesus no Brasil, a fazenda de Araçatiba, da qual a igreja de Nossa Senhora da Ajuda é o seu único remanescente, estava inicialmente constituída pelos edifícios correspondentes ao engenho e à residência. Existentes em 1716, eles foram erguidos pelo padre Rafael Machado em muito ajudado pelo morador e benfeitor Jorge Fraga.
Relativamente próxima ao colégio e residência de São Tiago de Vitória, com o qual se comunicava através do canal de Camboapina, além de núcleo produtivo, como as demais fazendas jesuíticas no Espírito Santo, Araçatiba exerce importante papel ao interiorizar a ação dos jesuítas. Em 1730, padres jesuítas viviam habitualmente na grande fazenda, então ampliada com os edifícios correspondentes à igreja, senzalas e oficinas.
No Espírito Santo, a primeira fazenda jesuítica ficava em Carapina e estava destinada à produção de açúcar, como Araçatiba. Ali, além do engenho havia uma olaria e uma igreja. Em Itapoca, na mesma região, a segunda fazenda dos jesuítas situada ao norte da vila de Vitória, em 1750 havia uma residência, igreja e uma fábrica de farinha.
A localização
De localização geograficamente antagônica, a fazenda de Muribeca foi implantada no limite sul do território da capitania, nas proximidades do rio Itabapoana. Para ela os padres jesuítas destinaram a produção de carne bovina e o abastecimento de peixe.
Em fins do século XVII, tinha residência e igreja. De localização mais central na capitania e favorecida pela possibilidade de comunicação fluvial com Vitória, onde os padres possuíam porto próprio, a fazenda de Araçatiba se destacou pela escala de sua produção.
Expressa fisicamente, sua magnitude impressiona o viajante Maximiliano Wied-Neuwied, em sua passagem, em 1816.
Dessa majestosa penumbra passamos inesperadamente para um trecho escampo, e tivemos grata surpresa quando, de súbito, descortinamos o grande edifício branco da fazenda de Araçatiba, com as suas duas torres pequenas, situada numa linda planura verde, ao pé do altaneiro Morro de Araçatiba, montanha rochosa coberta de mata.
E ainda foi a maior fazenda que encontrei durante a minha viagem. O edifício possui extensa fachada de dois pavimentos, e uma igreja; as choças dos negros, como o engenho de açúcar e as casas de trabalho, ficam ao pé de uma colina, perto da residência.
Da fazenda apenas a igreja dedicada a Nossa Senhora da Ajuda e ruínas da residência resistiram à ação do tempo e ao abandono. A residência, como nas demais erguidas no padrão jesuítico no Espírito Santo, tinha dois andares e correspondia ao “quarto” da fachada, já que em Viana a quadra jesuítica não foi erguida por completo. Abandonada, no século XIX o espaço correspondente à residência foi transformado em cemitério público.
A Estrutura
A igreja de Nossa Senhora da Ajuda tem nave única, coro sobre a porta principal e capela-mor, diferenciadas em largura e altura e unidas por um pesado arco cruzeiro. Por trás da capela-mor, situa-se a sacristia, por sua vez sobreposta por uma sala dotada de duas janelas com conversadeira e abertas para extensa planície. Nesse pavimento foram dispostos dois grandes vãos com tribuna.
Na fachada, ao contrário da planta, o traço já não se faz tão fiel e uniforme. Repetido, ordena a disposição de uma porta de entrada central e três janelas na parte superior, e a adoção de uma única e externa torre. Fechadas por esquadrias em madeira, as aberturas tiveram verga delineada em arco recurvado, e enfatizado por moldura em argamassa na portada.
Originalmente colocada entre a igreja e o edifício da residência, com sua discreta elegância, a torre ergue-se do lado esquerdo da fachada, destacada do frontão e coberta por uma cúpula que, externamente, apresenta aspecto piramidal. De base quadrada, a torre tem quatro aberturas para sino sobrepostas por cimalha e cercadura de geométrico desenho, e arestas marcadas por coruchéus. Entre a porta de entrada e as janelas da fachada, há uma janela emoldurada por quadro de verga reta e fechada por folha de tabuado em madeira.
Mantido no acabamento da torre sineira, o partido jesuítico aparece discretamente diluído no frontispício. Mais largo do que o frontão, condição intensificada por uma extensa cimalha entre dois coruchéus, o frontispício foi dividido em três partes, duas delas mais estreitas e delimitadas por falsos cunhais, os mesmos que se repetem nas arestas da torre. Aí, a modenatura repete a geometrização adotada na cercadura superior da cimalha e da torre, sobrepondo losangos isolados por frisos. O frontão, ao contrário, foi traçado com as curvas e contracurvas características do século XVIII. Além disso, foi perfurado por óculo lobulado, como ocorreu na maioria das igrejas, e arrematado por delicada cruzeta.
Estrututa Interna
Internamente, como nas igrejas pequenas, além das janelas sobre o coro e a porta, a Igreja Nossa Senhora da Ajuda apresenta três janelas sobre a nave, em cada lado.
Essas, muito altas, são do tipo rasgado com parapeito sacado e vedado por balaústre em madeira. Aí, as esquadrias, de duas folhas, foram executadas com tabuado e caixilho de madeira e vidro.
As do coro, duplas, foram executadas, externamente com caixilho em madeira e vidro, e internamente com duas folhas de tabuado em madeira.
Do tipo guilhotina, a elas se assemelham as duas janelas existentes na capela-mor, uma em cada lado. Há, aí, uma porta lateral que dá acesso ao cemitério, uma exceção entre as igrejas menores.
Posicionado sobre a porta principal, o coro, todo em madeira, é uma laje do tipo tradicional – tabuado fixado em barrotes –, apoiada em dois pilares. Sobre o coro, posicionado em sua parede esquerda, havia vão de porta por meio da qual a residência se ligava ao edifício do culto.
Junto com as espessas alvenarias portantes de pedra, como denunciado pelos vestígios da residência, a cobertura da igreja de Nossa Senhora da Assunção é sua mais legítima expressão tecnológica. As paredes, simplesmente caiadas, apenas no frontispício falam de seu tempo tardio, indício explicitado em seu delineamento e na sua modulação. A mesma percepção se revela internamente na contraposição entre o acabamento das esquadrias e a estrutura da cobertura, entre o torneado balaústre e os rígidos tirantes, entre o translúcido vidro e a opaca telha cerâmica, apenas encoberta com forro apainelado na capela-mor.
Referência INPHAN, Pag 345: https://secult.es.gov.br/Media/secult/EDITAIS/102-Documento-1436796643-100-Documento-1436454022-56-Documento-1427918086-atlas-patrimonio%20(1).pdf